Padre Alfonso Pastore — Fundador do ECC
Padre Alfonso Pastore nasceu em Soledade (RS), no dia 8 de novembro de 1932. Era o quinto filho de uma família de sete irmãos. Seus pais, José Pastore e Maria Ranzolim Pastore, eram agricultores simples e profundamente religiosos. Todas as noites, reuniam os filhos para rezar o terço de joelhos, e aos domingos participavam da celebração na capela de São Roque — conduzida por leigos, pois não havia padre na região.
Ainda na infância, a família mudou-se para Iomerê (SC). Ao chegar, não tinham sequer uma casa: o pai alugou um paiol enquanto construía o novo lar. Homem versátil e trabalhador, o Sr. José valorizava o cooperativismo e repetia sempre:
“União e ajuda mútua levam ao progresso.”
Atuou também na política local, chegando a se candidatar a vereador. A mudança teve várias motivações, entre elas o desejo de viver mais plenamente a fé e proporcionar educação aos filhos, sem afastá-los da família. Todas as noites, o casal Pastore pedia a Deus que chamasse um de seus filhos ao sacerdócio.
O chamado desde a infância
Aos seis anos, já consciente do valor da Eucaristia, o pequeno Alfonso pediu ao pai para comungar. O pai respondeu: “Você ainda é muito pequeno. Espere, seu dia vai chegar.” Inconformado, Alfonso insistiu em conversar com o padre da paróquia, Pe. Antônio. Após várias perguntas, o sacerdote disse:
“Você sabe tudo, mas é muito criança para receber a comunhão.”
Alfonso retrucou:
“Pe. Antônio, eu quero receber Jesus Cristo junto com papai e mamãe. É Ele quem lhes dá força, e me sustentará também.”
Comovido, o padre permitiu, e no domingo seguinte Alfonso fez sua primeira comunhão ao lado dos pais.
Mais tarde, quando sua mãe ficou doente, a única filha do casal anunciou o desejo de ser freira. O pai, firme na fé, respondeu:
“Minha filha, a vida é tua, a vocação é tua. Quem deve cuidar da mamãe sou eu, o marido dela. Segue o chamado de Deus. Eu te abençoo e pedirei ao Senhor que te realize plenamente.”
Com a irmã já no Juvenato, Alfonso, aos 14 anos, disse ao pai que também queria ser padre. O Sr. José o encorajou com serenidade:
“Vamos rezar para que você seja um bom padre. Mas, se um dia quiser voltar, seu lugar estará guardado à mesa e na casa.”
Formação e vocação pastoral
Aos 14 anos, Alfonso ingressou no Seminário Camiliano de Iomerê. Aos 16, foi estudar em São Paulo, no bairro da Vila Pompéia, e fez o noviciado em Jaçanã. Lá conheceu um padre francês que o inspirou na preparação de namorados e noivos. Também conviveu com o fundador e casais do Movimento das Equipes de Nossa Senhora e do Movimento Familiar Cristão (MFC), experiências que marcariam profundamente sua missão.
Durante o curso de Filosofia, percebeu que o povo precisava mais de presença e esperança do que de teorias. Ingressou na Teologia em São Paulo e, em 29 de junho de 1958, foi ordenado sacerdote.
O nascimento do ECC
No Paraná, Padre Alfonso dedicou-se à Pastoral Familiar e acompanhou o surgimento da Pastoral da Criança na Diocese de Londrina. Em 1970, retornou a São Paulo, assumindo a Paróquia Nossa Senhora do Rosário, na Vila Pompéia, onde fortalecia os grupos do MFC e das Equipes de Nossa Senhora. Ainda assim, sentia que era preciso mais.
Buscando orientação, conversava frequentemente com Frei Lucas Moreira Neves, então Assistente Estadual do MFC. Dizia-lhe:
“Frei Lucas, os movimentos familiares não conseguem atender às necessidades dos paroquianos. É preciso criar algo mais ágil. O povo precisa disso.”
Em uma noite de oração, após meditar a Palavra de Deus na Liturgia das Horas, Padre Alfonso começou a escrever. As ideias fluíram como inspiração divina — nasciam ali as primeiras palestras do Encontro de Casais com Cristo (ECC).
Levantou o projeto a Frei Lucas, que o encaminhou a Frei Gorgulho, assessor bíblico de Dom Paulo Evaristo Arns. Vinte dias depois, recebeu de volta o manuscrito com a bênção:
“Deus abençoe a proposta.”
Assim, em abril de 1970, foi realizado o 1º Encontro de Casais com Cristo, na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, com a presença de 20 casais. A semente lançada por Padre Alfonso se espalhou por todo o Brasil, levando fé, alegria e compromisso cristão às famílias.
Um pastor incansável
Como camiliano, Padre Alfonso chegou a ser provincial da Ordem Camiliana no Brasil. Dedicou-se à formação de seminaristas, foi capelão hospitalar e, mais tarde, padre diocesano. Serviu em Vitória (ES), Paracatu (MG), Arinos (MG) e em diversas outras comunidades, sempre com ardor missionário.
Trabalhou com menores de rua, mães solteiras, presos, leprosários e hospitais psiquiátricos, levando consolo e dignidade a quem mais precisava. Paralelamente, escreveu 16 livros, verdadeiras joias para o clero e os leigos, entre eles:
- “Eu também não acreditava no amor e no poder de Jesus”
- “Acolhimento”
- “O Iníquo Sistema Carcerário”
- “Missa de Cura e Testemunho”
Últimos anos e legado
Mesmo nos últimos anos, já acometido por um câncer, permaneceu firme em sua missão de ser ponte entre o povo e Deus. Por onde passou, deixou marcado seu costumeiro “Viva!” — expressão de fé, esperança e amor.
Às vésperas do ECC completar 30 anos, Deus o chamou à morada eterna. Padre Alfonso Pastore faleceu em 17 de março de 2000, em Vitória (ES), aos 67 anos, após um longo período de sofrimento vivido com serenidade e fé.
No ano do Jubileu dos 2000 anos do nascimento de Cristo, dos 500 anos do Brasil e dos 30 anos do ECC, sua partida foi um sinal de esperança e plenitude.
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os que promovem a paz e os puros de coração, porque verão a Deus.”
(Mt 5,6.9)
Padre Alfonso Pastore deixou saudade, mas sobretudo um testemunho luminoso de fé, fraternidade e serviço. Sua vida é um convite a crer que vale a pena dedicar-se inteiramente ao Reino de Deus.
Biografia baseada no livro de Pe. Alfonso Pastore: “Construir a Fraternidade: o grande desafio. Onde está a fraqueza da Igreja.”
Belo Horizonte, 21 de março de 2000.